As Diferenças e Dinâmicas da Aquisição da Escrita na Criança do Ensino Regular e no Adulto da Educação de Jovens e Adultos (EJA)
- Isaque Pers
- 20 de out. de 2024
- 4 min de leitura
Resumo
A aquisição da escrita é um processo complexo que se apresenta de maneira distinta entre crianças do ensino regular e adultos da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Enquanto crianças passam pelo processo natural de alfabetização inseridas em um contexto pedagógico contínuo, os adultos da EJA enfrentam desafios adicionais, como a conciliação de responsabilidades familiares e profissionais com o retorno aos estudos. Este artigo examina as diferenças na aprendizagem da escrita entre esses dois públicos, analisando fatores cognitivos, sociais e pedagógicos que influenciam o processo. A responsabilidade e o compromisso com os estudos, fundamentais em ambos os grupos, assumem características específicas de acordo com a idade e a situação de vida.
Introdução
A aquisição da escrita é um marco crucial no desenvolvimento educacional de qualquer indivíduo. Contudo, a maneira como esse processo se dá varia amplamente entre diferentes faixas etárias. Crianças no ensino regular enfrentam o desafio de aprender a ler e a escrever em um ambiente escolar que tende a ser estruturado para sua faixa etária e que acompanha o seu desenvolvimento cognitivo. Por outro lado, os adultos na EJA retornam à escola com uma série de conhecimentos adquiridos ao longo da vida, mas que, muitas vezes, não incluem a alfabetização formal. Além disso, esses adultos frequentemente precisam conciliar os estudos com obrigações familiares e profissionais, o que influencia a forma como se comprometem e se dedicam ao processo de aprendizagem.
Aquisição da Escrita na Criança do Ensino Regular
Para crianças no ensino regular, a aquisição da escrita ocorre em um contexto de desenvolvimento cognitivo natural e progressivo. Segundo Vygotsky (2000), o processo de aquisição da escrita nas crianças está intimamente relacionado ao desenvolvimento da linguagem, que começa a se estruturar desde cedo através das interações sociais. No ambiente escolar, as crianças são expostas a atividades estruturadas de forma lúdica, o que facilita a internalização das regras da linguagem escrita.
O trabalho de Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1979) destaca que a alfabetização infantil se dá de maneira construtivista, ou seja, a criança, ao interagir com o mundo escrito, começa a formar hipóteses sobre o funcionamento da escrita, passando por diferentes estágios de compreensão até alcançar a plena alfabetização. O ensino regular é, portanto, o local onde a criança se dedica de forma integral aos estudos, sem grandes distrações externas, o que favorece o seu aprendizado contínuo.
A Escrita no Adulto da EJA
Os adultos na Educação de Jovens e Adultos, por sua vez, enfrentam um conjunto de desafios particulares. Muitos retornam ao ambiente escolar após anos de afastamento, trazendo consigo uma série de responsabilidades familiares e profissionais que podem limitar o tempo e o comprometimento total aos estudos. Segundo Paulo Freire (1987), a alfabetização de adultos deve considerar a bagagem de vida e as experiências que esses alunos trazem consigo, promovendo uma educação dialógica e contextualizada.
Ao contrário das crianças, que estão em fase de desenvolvimento cognitivo, os adultos da EJA já possuem uma visão de mundo consolidada e muitas vezes são capazes de relacionar a alfabetização com questões práticas do cotidiano. Porém, o aprendizado da escrita para esses adultos tende a ser mais desafiador, pois envolve a superação de barreiras psicológicas e emocionais, como o medo do fracasso e a frustração por não terem sido alfabetizados na infância. Além disso, Alonso (2012) sugere que os adultos da EJA frequentemente apresentam uma motivação instrumental para aprender a ler e escrever, relacionada ao trabalho ou à autonomia pessoal, o que influencia a maneira como se engajam no processo de aprendizagem.
Responsabilidade e Compromisso com os Estudos: Crianças x Adultos
Tanto crianças quanto adultos apresentam responsabilidades e compromissos com seus estudos, mas essas responsabilidades se manifestam de maneira distinta. Para as crianças, o compromisso com o aprendizado está frequentemente ligado ao incentivo dos pais e professores, que exercem um papel fundamental no acompanhamento e na motivação contínua. Segundo Piaget (1990), a aprendizagem infantil está relacionada à curiosidade e à exploração do mundo, sendo o ambiente escolar uma extensão desse processo natural.
Os adultos da EJA, por outro lado, precisam lidar com uma gama de obrigações externas, como trabalho, família e até questões financeiras, que podem competir com o tempo e a energia disponíveis para os estudos. Ainda assim, a motivação desses adultos pode ser mais forte em termos de comprometimento, já que muitos veem a educação como um meio de melhorar suas condições de vida ou de alcançar uma realização pessoal tardia. Conforme Moura (2013), muitos alunos da EJA retornam à escola com um senso de urgência e propósito claro, o que pode compensar as dificuldades que enfrentam.
Práticas Pedagógicas: Adaptações para Cada Público
As abordagens pedagógicas para o ensino da escrita precisam ser adaptadas de acordo com as características e necessidades de cada grupo. Para as crianças, o uso de metodologias lúdicas, como jogos e atividades interativas, é uma prática comum e eficaz. Para os adultos da EJA, a prática pedagógica deve ser mais flexível e contextualizada, levando em conta as experiências de vida e o conhecimento prévio dos alunos.
Conclusão
A aquisição da escrita se apresenta de maneira distinta para crianças do ensino regular e para adultos da EJA, em função das diferentes fases de vida e contextos em que estão inseridos. As crianças têm um processo de aprendizado mais contínuo e natural, enquanto os adultos precisam lidar com desafios externos e internos que afetam seu desempenho escolar. As práticas pedagógicas, portanto, devem ser adequadas às necessidades de cada grupo, com metodologias que respeitem o ritmo de cada aluno e valorizem suas experiências e conhecimentos prévios.
Referências
Ferreiro, E., & Teberosky, A. (1979). Psicogênese da língua escrita. Artmed Editora.
Freire, P. (1987). Pedagogia do oprimido. Paz e Terra.
Moura, M. A. (2013). EJA e os desafios da alfabetização de adultos. Cadernos de Educação, 34(2).
Piaget, J. (1990). A formação do símbolo na criança. Zahar Editora.
Vygotsky, L. (2000). A formação social da mente. Martins Fontes.
Alonso, M. (2012). Motivação e aprendizagem na EJA: um estudo sobre a realidade dos alunos adultos. Educação e Realidade, 37(2).
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